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Países dividem experiências sobre escassez de água

Nove nações apresentam mosaico de soluções para crise hídrica durante Seminário Internacional Gestão da Água em Situações de Escassez

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) realizou na última semana o Seminário Internacional Gestão da Água em Situações de Escassez, que debateu em São Paulo (SP), temas:  como algumas nações lidam com a crise hídrica na gestão da água.

O encontro alinhou uma diversidade de estratégias internacionais para o enfrentamento da falta d água e foi realizado em parceria com o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O encontro reuniu especialistas e agentes públicos de todo o Brasil para conhecer as experiências de nove nações convidadas sobre o combate à escassez de água. Aberto na quinta-feira (23), pela ministra Izabella Teixeira, que, em seu discurso, pediu uma política nacional para o reúso da água.

Secretario de Recursos Hídricos e Ambientes Urbanos do MMA, Ney Maranhão fez um balanço do encontro exaltando como as diferentes culturas e grupos sociais se ajustaram às condições naturais impostas por meio de diferentes estratégias de sobrevivência e de adaptação.

“Não existe uma solução única e isolada. Aprendemos que cada gota conta e, contando cada gota, é preciso fazer uma gestão obsessiva com relação aos recursos hídricos.”

Austrália mede cada gota água

Nos anos 1980, a superação da seca na Austrália ocorreu com a construção de represas e a mudança no padrão produtivo da economia. Uma década depois, a resposta à nova situação de seca veio com a reestruturação da indústria e a regulamentação e aperfeiçoamento das instituições, o que resultou na reforma da política de recursos hídricos.

“Uma lição aprendida é que, para fazer gestão, é necessário medir cada gota de água”, destacou David Downie, acadêmico australiano que relatou a experiência daquele país.

Cingapura busca fontes alternativas

Cingapura é um país pequeno, que não tem território para armazenar água. A demanda de água é de 400 milhões de galões. Considerando o histórico de pouca chuva dos últimos 50 anos, houve a necessidade de desenvolver fontes alternativas de oferta de água: água reutilizada ou nova água, água importada da Malásia, represas para água da chuva, e dessalinização.

O país conta com 100% de abastecimento de água potável e 100% de saneamento, com instalações modernas que não poluem as fontes hídricas. A gestão da água é realizada de forma integrada.

Em relação ao consumo da água nova pela população (água reutilizada), houve a necessidade de fazer as pessoas compreenderem que a água estava adequada para beber. O país conta com planta dessalinizadora, instalada em 2013, que responde por 25% do abastecimento. Pelo lado do gerenciamento da oferta, o lema é “água para todos”. Pelo lado do gerenciamento da demanda, o lema é “conserve, valorize, aproveite”.

China aposta no armazenamento

A maioria das secas na China aconteceu nos últimos 20 anos. A seca intensa de 2009 a 2011 impactou na economia do país com um custo médio de 16,2 milhões de toneladas de alimentos, escassez de 40 bilhões de metros cúbicos de água e perda de 152,6 bilhões de yuans, o equivalente a 1,7% do PIB anual.

A China conta com 87 mil reservatórios. Os projetos de armazenamento de água são desenvolvidos em regiões, onde há alta precipitação pluvial. As medidas não estruturais adotadas pela China estão relacionadas à política e à regulamentação, além do estabelecimento de padrões técnicos para classificação da severidade das secas.

Espanha tem plano de alerta à seca

Alguns princípios gerais da gestão da água na Espanha são a unidade de bacia hidrográfica, o planejamento de longo prazo (revisto a cada seis anos) e a gestão integrada, levando em conta os componentes social, econômico e ambiental. O país desenvolveu um plano especial de alerta à seca.

Entre 2001 e 2010, foi estabelecido um plano para o sistema geral de regeneração e reutilização de águas residuais urbanas da região de Murcia, que é o maior projeto de reutilização do mundo, premiado internacionalmente. O país conta com 50 grandes depuradoras.

Estados Unidos pensam no futuro

A palestra teve como foco o estado da Califórnia, onde há mais água no Norte do que no Sul. Há dependência da água das montanhas (neve) e da chuva. As grandes secas do estado aconteceram entre 1976 e 1977; 1987 e 1992; 2012 e 2015. A seca mudou a visão do sistema de abastecimento. O primeiro passo para reverter a situação foi implantar o racionamento de água em 25%, com pagamento adicional de uso excessivo.

O racionamento foi significativo, apesar da resistência inicial da população, atingindo um consumo “per capta” de 185 litros/ habitante dia (com as perdas). Mesmo após a passagem do período de seca, as restrições foram mantidas.

Israel adota tarifa para escassez

 A questão hídrica em Israel não pode ser tratada como uma crise, mas uma realidade. Trata-se de um desafio da água. Israel possui recursos naturais escassos, mas se vale de outros recursos como a cultura, a inovação e o empreendedorismo. O país tem 45% de escassez de água.

Em Israel, a Lei da Água é de 1959 e estabelece, entre outras questões, que o dono da terra não é o dono da água, a precificação da água (preço real para um bem escasso) e o valor arrecadado são aplicados na melhoria da infraestrutura hídrica e rede de abastecimento. As tecnologias desenvolvidas são para o tratamento e reúso, a gestão inteligente, a dessalinização e a irrigação inteligente.

Japão educou a população para crise

No Japão, a seca é um problema social. É utilizado um “Manual geral sobre medidas contra a seca”, dividido em três partes: informações gerais, ações preventivas e ações durante a seca. A seca fez o país economizar água, reduzir a pressão de suprimento e estabelecer a limitação água/hora.

A seca de 1954 provocou a minimização e economia no consumo de água; a consciência dos recursos hídricos limitados e o entendimento comum entre cidade, política nacional e sociedade. Percebeu-se a necessidade de se alocar os recursos hídricos com sabedoria. Algumas medidas adotadas pelo país foram a gestão da pressão, o controle por medidores, os reparos rápidos nas instalações (detecção e conserto de vazamentos).

Foi estabelecido o “Dia da Economia de Água”, dia 15 de cada mês, em que são feitas campanhas de economia. O Japão adota a reutilização de águas residuais e pluviais e há um programa do governo para a divulgação de tecnologias.

Fonte:

Ministério do Meio Ambiente