Presidente da Embratur prepara cinquentenário da instituição com a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro
As Olimpíadas, a serem vistas em agosto por cerca de 5 bilhões de pessoas em mais de 200 países, encerrará um ciclo que reposicionou o Brasil como nação capaz de realizar com sucesso e segurança eventos de grande porte internacional, mostrando ao mundo, e também aos brasileiros, a capacidade de organização do País.
Em entrevista ao Portal Brasil, o presidente da Embratur, Vinícius Lummertz, afirma que um dos maiores herdeiros desse ciclo é o setor de turismo. Em 2014, ano da Copa do Mundo, o Brasil recebeu 6,4 milhões de turistas estrangeiros que gastaram US$ 7 bilhões, em números que não são comparáveis aos 100 mil turistas que visitavam o País 40 anos atrás.
Em ações mais imediatas, Lummertz explica que a Embratur está investindo R$ 10 milhões na campanha “Viva o verão de perto – venha para o Brasil”, de divulgação do verão da temporada 2015/2016. O objetivo é ampliar o número de turistas latino-americanos que desfrutam das praias brasileiras nessa época.
Confira abaixo os principais pontos da entrevista.
O que a Embratur tem para comemorar?
A Embratur vai completar 50 anos no ano das Olimpíadas, depois de um ciclo de grandes eventos que deu grande protagonismo ao Brasil desde 2007 com os jogos Panamericanos até as Olimpíadas passando pela Copa das Confederações, Rio+20, vinda do papa, uma sequência de grandes eventos que manteve o Brasil muito visível. Nossa expectativa em 2016 é que estejamos inaugurando uma nova projeção para as próximas décadas iniciando com a missão de manter o Brasil em pauta no mundo e ampliar o fluxo de turistas internacionais.
Qual é o número de turistas estrangeiros que visitam o Brasil?
Em 1966, ano de criação da Embratur, o País recebeu pouco mais de 100 mil turistas internacionais. Eram turistas de negócios e alguns vizinhos, o turismo na época era incipiente e a Embratur teve um grande trabalho de alavancagem de tudo isso. De lá pra cá houve crescimento para 6,4 milhões de turistas internacionais e cerca de US$ 7 bilhões (números de 2014).
Esse montante é pouco ou é muito?
Isso é pouco em relação ao potencial do Brasil. O Brasil tem no turismo internacional o maior potencial do planeta.
Por quê o País tem esse grande potencial?
A base ainda é relativamente baixa em relação ao potencial. O Brasil tem muito ainda a ser conhecido e desenvolvido. O potencial natural é reconhecido por instituições internacionais como o Fórum Econômico Mundial, (do Brasil) com o maior potencial natural entre 140 nações pesquisadas e o oitavo em maior potencial cultural. Juntando essas duas coisas e imaginando lugares como Bonito (MS), Foz do Iguaçu (PR), praias de Santa Catarina, de Fernando de Noronha, Chapada dos Veadeiros (GO), o cerrado, as serras brasileiras, o potencial é gigantesco em relação ao que já conquistamos.
Isso é relevante?
O que conquistamos é relevante porque (o turismo) é o quinto item na nossa balança de exportações. Os US$ 7 bilhões, esse dinheiro que entra, é relevante na conta internacional porque supera, por exemplo, nossa exportação de automóveis, a exportação de café e de aviões. Só que o potencial de crescimento de setor é muito alto.
E o que fazer para explorar esse potencial?
Precisamos nos promover mais no exterior. No âmbito da Embratur precisamos, no ensejo do aniversário de 50 anos, discutir uma mudança institucional para que a Embratur tenha um arranjo jurídico capaz de fazer mais parcerias com o meio privado a exemplo do que fazem nossos concorrentes.
O momento atual é favorável ao turismo?
Hoje o câmbio está compatível com o grau de promoção que o Brasil teve nos últimos anos. Enquanto (no passado recente) a promoção dizia sim, o câmbio dizia não, agora os dois dizem sim. Tanto que estamos com uma campanha no ar de R$ 10 milhões na América Latina aproveitando o momento cambial e o verão brasileiro para trazer caixa para dentro do país porque o Caribe está em cima dos nossos vizinhos.
O senhor fala isso por causa da concorrência no setor?
Mercado é mercado. Esse mercado amadureceu e o turismo hoje é para profissionais e não para amadores. A profissionalização da Embratur é honrar seu passado, sua história, honrar suas conquistas e por conta da honra a esse histórico projetar o futuro em outro nível institucional.
O que está faltando para alavancar mais negócios?
No ranking que nos classificou como o maior potencial entre 140 nações, nos destacamos muito mal, na 137ª posição, em condições para abrir um negócio em turismo. Há dificuldades do ponto de vista burocrático, de incerteza jurídica para instalação de empreendimentos. A sustentabilidade (nesse setor) tem que rodar não só no ambiental, no histórico e cultural, ela tem que rodar no econômico.
Por quê?
Porque é quem paga a conta. O Brasil precisa dessa lógica de sustentabilidade econômica.
A melhora da infraestrutura, como nos aeroportos, tem feito diferença para o turismo?
A infraestrutura faz enorme diferença. O Brasil pulou muitos pontos, cerca de 20 pontos no ranking mundial da competitividade em turismo, (da 51ª posição) para o 28º lugar em competitividade em turismo (entre 2013 e 2014). Isso, apesar de ser o 137º em condições para abrir um negócio, por conta do avanço na questão aeroportuária e conectividade da América Latina com o Brasil e do Brasil com o mundo. Isso em aeroportos em especial, os estádios de futebol também colaboraram.
E esse avanço na competitividade foi só por causa da infraestrutura?
O grande elemento foi a infraestrutura, mas também a promoção da Copa do Mundo e dos grandes eventos aumentaram percepção mais positiva sobre o País.
Qual é a dimensão das Olimpíadas como megaevento?
Vamos ter um número grande de turistas internacionais de vários países do mundo, que será menor que o visto na Copa do Mundo, mas o número de atletas é maior, o número de países é maior e de jornalistas também é maior. A exposição do País em sua amplitude de comunicação é muito maior do que na Copa do mundo porque o alcance é muito maior. Estamos falando de perto de 5 bilhões de pessoas (expectadores) contra 3 bilhões de pessoas na Copa do Mundo. A Copa é do futebol, que é uma paixão, as Olimpíadas são um evento familiar, mais diversificado e com a presença de muito mais países, mais de 200 países. O grau de exposição que o Brasil terá será muito alto.
E como fica futuro após esses grandes eventos?
Esses eventos auxiliaram e de agora para frente será um trabalho árduo. Não existe passe de mágica, existem passos largos. Após as Olimpíadas esperamos ter lançado a nova marca do Brasil que está sendo gestada aqui com o Ministério do Turismo e a Secom.
Quando isso será feito?
Antes das Olimpíadas esperamos lançar uma campanha internacional de peso, usando a motivação da música como linguagem brasileira, uma música brasileira e universal, e vamos trabalhar no relançamento da marca Brasil no mundo.
O que mais será feito?
Vamos lançar novo site da Embratur por volta de março e que vai ser o novo digital da Embratur e vai contemplar os estados e municípios. Não é para a Olimpíada apenas é uma nova abordagem a partir das Olimpíadas.
Qual é a percepção do estrangeiro sobre a segurança no Brasil?
Na Copa do Mundo a satisfação dos viajantes com o item “sensação de segurança” foi 92,2%. Tenho dado entrevistas no exterior sobre esse assunto e noto que havia mais dúvidas sobre isso antes da Copa. E entre todos os benefícios (em se realizar grandes eventos) o maior talvez seja esse: a capacidade de uma sociedade e de uma nação em ter estatura para fazer o maior evento da humanidade e fazê-lo com sucesso como fizemos os demais grandes eventos. É uma questão de estatura psicológica de uma nação é e isso é um valor intríseco que não tínhamos e que obtivemos.
E como é a avaliação disso?
Isso está sendo subavaliado porque quando olhávamos no passado a hipótese de sermos um país que viesse a realizar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada alguns e muitos às vezes até se assustavam. E hoje, não obstante as limitações, fomos realmente bem sucedidos. Isso nos dá estatura e o turismo é o grande herdeiro disso tudo.
A Embratur está fazendo uma campanha para atrair turistas para o verão brasileiro?
Estamos com uma campanha publicitária importante no ar na América Latina com ênfase na Argentina, que é nosso maior parceiro e que traz ao Brasil 1,750 milhão de turistas e US$ 2 bilhões por ano. E estamos (com a campanha) no Chile, Peru, Paraguai e Colômbia. E essa campanha, por conta de alguns canais de televisão, ocorrerá também em outros países e tem o objetivo de sensibilizar nossos irmão latino-americanos sobre o verão brasileiro, que é um grande evento no Brasil. Temos uma mística, o verão do Atlântico sul, esportes de praia, festas de família … o verão brasileiro tem gosto e sabor e estamos levando isso para maior conhecimento e lembrança.
O momento é favorável para a atrair esse tipo de turista?
O momento, do ponto de vista do câmbio, é favorável e estamos acelerando o investimento de R$ 10 milhões para ir ao encontro do público alvo que nos interessa. Esse recurso, que irá retornar muitas vezes, vai acelerar (esse fluxo de turistas). Temos visto isso em reservas de hotéis, de passagens, em aluguéis de casas e pacotes. Os turistas que veem gostam, voltam. O investimento de hoje não é só para o verão de hoje, fica acumulado na memória do turista.
Fonte: Portal Brasil